segunda-feira, 18 de maio de 2009
"A vida de José Martí"
* Sidnei Rodrigues de Faria.
Em maio de 1953 um grupo de jovens autodenominou-se a Geração do Centenário do Apóstolo da independência cubana. Este grupo era liderado pelo jovem advogado Fidel Catro Ruz e vivia sob a ditadura de Fulgêncio Batista em Cuba.
Neste mesmo ano a Geração do Centenário faria o ataque ao quartel Moncada no dia 26 de julho durante o carnaval que era marca do fim da colheita da safra de cana de açúcar na cidade de Santiago de Cuba e daria início ao terceiro momento do processo de lutas pela verdadeira independência cubana iniciado em 1868 por Carlos Manuel de Céspedes e depois por José Martí em 1895.
Ao ser preso pela ditadura depois do ataque ao quartel Moncada, Fidel Castro questionado sobre quem era o autor intelectual do ataque não teve dúvidas e disse: “José Martí”. A presença do apóstolo na consciência cubana é profunda e inspiradora. Ele é símbolo do homem de ideais e de armas quando necessário.
Dos membros da Geração do Centenário, poucos sobreviveriam para ver Fidel Castro entrar em Havana no dia 08 de janeiro de 1959 como líder da recém vitoriosa Revolução Cubana.
Nos próximos textos entraremos na história da Revolução, seus passos iniciais rumo à construção da liberdade, assim como desejamos refletir sobre temas polêmicos do país e ainda que timidamente contar um pouco de nossa experiência pessoal na Ilha.
Homem fundamental na história cubana é José Martí. Poeta, jornalista, ensaísta, professor de literatura, advogado e filósofo, escritor de livros para adultos e crianças, diplomata em nome da Argentina e Uruguai e líder do Partido Revolucionário cubano. Estas e outras atividades desempenhou em sua curta e fulgurante existência entre 1853-1895.
Nossa América
José Martí trouxe para os latino americanos a percepção do perigo do poder dos EUA sobre os povos ao sul do Rio Bravo e mais que isso trouxe-nos sua visão de como deveria Nossa América em contraponto à América do norte: os EUA.
Antes dos modernistas brasileiros criarem o conceito de antropofagia cultural do qual o livro Macunaíma de Mário de Andrade é o maior exemplo, Martí já propunha a construção de uma sociabilidade latino americana. A Nossa América para ter sentido deveria construir sua civilização sobre seus próprios valores herdados dos índios, negros, migrantes de diferentes partes do mundo e até dos europeus incorporando os aspectos positivos das culturas de fora, mas mantendo como tronco principal nossos valores e nossas tradições.
Considerava que os Estados Unidos da América do norte tinham grandes homens no seu passado como Washington e Lincon, mas, não ofereciam nada de novo ao mundo. As treze colônias reproduzem o mesmo ideal de sociedade da européia com suas virtudes e seus erros. Ou seja, para existir com dignidade não podemos copiar fórmulas de fora, distantes de nossa cultura e de nossas raízes latinas, “Ou inventamos ou erramos” vaticinou San Simón.
Vida curta e intensa
Nasce sob o nome de José Julián Martí Pérez em 28 de janeiro de 1853 na cidade de Havana. Sua casa natal atualmente é um belo e singelo museu pintado de amarelo do lado de fora e fica próximo à estação de trens de Havana. Nele podemos encontrar cartas, fotos, documentos e alguns dos seus escritos.
Seus pais eram espanhóis pobres que haviam migrado a Cuba em busca de uma vida melhor e tiveram sete filhas e o caçula. Teve como professor e preceptor Rafael Maria de Mendive que era dono de um colégio, o San Pablo e que percebeu no menino sem recursos para pagar a educação um prodígio. Aos treze anos de idade tenta traduzir ao espanhol os poemas de Byron e o teatro Hamlet, de Willian Sheakspeare. Participa de recitais de poesia e se interessa por cultura e ciências.
Aos 15 anos fará poemas apoiando a primeira guerra de independência de Cuba e manifesta sua rejeição aos cubanos que apóiam o domínio espanhol ao invés de lutarem por seu país. É um leitor atento e criativo de escritores de todo o mundo.
Aos 16 anos será levado a julgamento por ser a favor da independência de Cuba frente à Espanha.
Neste momento Martí como cada um de nós em algum momento de nossa vida, se vê diante do dilema de negar as acusações que pesavam sobre ele e aceitar uma vida cômoda em Cuba dedicando-se à vida intelectual descompromissada e perto de sua família mesmo vendo o país sob opressão e exploração espanhola ou fazer como dissera Charles Dickens de viver o desafio de ser o herói e profeta da própria história. A segunda foi a escolha do jovem intelectual mesmo sabendo que sua escolha implicaria em dor para ele e sua família. Não quis renunciar aos seus valores. Ao invés de fugir às acusações, as assume e faz do seu julgamento um espaço para defender a liberdade de Cuba sendo então condenado a quebrar pedras em um campo de trabalhos forçados. Depois de seis meses nesta situação desumana é enviado para a Ilha de Pinos, atual Ilha da juventude e um ano mais tarde aos 18 anos é condenado ao exílio na Espanha.
Degradado irá viver na Espanha, México, Guatemala e mais de dez anos em Nova Iorque nos EUA. Por toda parte defende por escrito, em debates com cubanos que vivem no exterior e em manifestações públicas a independência cubana.
Será nos EUA onde desenvolverá parte de sua produção intelectual, compreenderá o nascente imperialismo americano e onde começará a reunir os revolucionários cubanos que haviam assinado um cessar fogo com a Espanha em 1878 para reiniciarem a segunda guerra de independência.
Morte em combate
No início de 1895 Martí é nomeado líder máximo do Partido revolucionário Cubano e líder militar do grupo independentista partindo para a Ilha junto de Máximo Gómez, António Maceo e suas tropas.
No dia 19 de maio morre em batalha. Deixa poemas, contos, ensaios, a revista infantil Idade de Ouro. Fica um conjunto de cartas e ensaios nos quais defende os valores de uma América latina mestiça e que por isso mesmo é criativa e novidade para um mundo sem equilíbrio. Duas grandes guerras do século XX provarão que Martí tinha razão de que o projeto de vida capitalista europeu - estadunidense de vida em sociedade estava fadado ao fracasso.
Em 1899 Cuba torna-se independente da Espanha, mas agora sob o domínio dos EUA. Ainda demorarão muitos anos para que os sonhos martianos sejam realizados.
Na véspera de sua morte deixa uma carta incompleta ao amigo mexicano Manuel Mercado: “Estou todos os dias em perigo de dar minha vida pelo meu país e pelo meu dever - entendo e tenho ânimo de realizar isso - de impedir a temp, com a independência de Cuba, que se estenda pelas Antilhas os Estados Unidos e caiam com esta força a mais sobre nossas terras da América. Tudo que fiz até hoje e farei é para isso. (...)”.
Na cidade de Santiago de Cuba no cemitério de Santa Ifigênia descansam os restos mortais deste grande filho da América. A cada meia hora um pequeno grupo de militares faz uma breve cerimônia de troca de guardas de honra em frente ao mausoléu.
São quase cinco da tarde. Aos poucos o sol vai dando lugar às sombras que refrescam o dia quente do Caribe. Olho em volta e vejo árvores, um grupo de meninos que voltam da escola com seus uniformes tortos e sujos.
Sinto o tamanho dos sonhos deste que em vida encontrou luta e sofrimento. Vejo que Martí repousa em Paz. A Nossa América para além de teorias cabe aqui nesta tarde de julho. De volta para casa vou lembrando a frase do apóstolo de que “Pátria é humanidade”.
* Médico generalista graduado na Escola Latinoamericana de Medicina- ELAM.
Para conhecer mais sobre José Martí:
1- Associação cultural José Martí de Minas Gerais. Fone (31) 32220118; 32220118; 88336288 e Fax: (31)32220118. E-mail acjmmg@ig.com.br
2- Associação de pais e apoiadores dos estudantes brasileiros em Cuba. E-mail: apacdf@gmail.com Página na Internet: http://www.programandoofuturo.org.br/apac/
3- http://www.guantanamera.org.br/marti.htm
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Um comentário:
Mto legal de sua parte trazer para o presente heróis que ficam esquecidos no tempo...
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